Cada vez é mais cedo que começam a ser instaladas nas nossas cidades as iluminações de Natal. Dizem-me que é a concorrência entre as empresas de luminotécnica que o impõe. Talvez seja. Mas esta ânsia por que o Natal chegue depressa não me é indiferente. São os interesses comerciais a ditar leis, certamente. É o estímulo antecipado do apetite consumista que é posto a funcionar, claro. Mas assalta-me, por um momento, a ilusão de que é também uma consciência difusa de que nos falta Natal nas nossas vidas quotidianas. E que, talvez o brilho das luzes seja a antecipação querida da Luz que precisamos para dar sentido aos nossos caminhos esforçados.
Não há orçamentos cristãos, como não há políticas externas cristãs ou propinas cristãs. O envolvimento dos cristãos na política não deve ser orientado para a reserva de uma coutada de poder cristão contra as outras propostas mas sim pela interpelação à pluralidade de soluções com base nos valores do Evangelho. É exigível aos cristãos, por isso, que saibam ser firmes nos princípios e tolerantes nas mediações. O debate político não é um fardo que temos que suportar mas sim um teste à nossa capacidade de sermos testemunhos da esperança nos mais diferentes domínios da vida colectiva. Sem a tentação de condenar os diferentes de nós ou de nos refugiarmos no guetto seguro da intocabilidade.
Em que termos é que se põe, nas nossas escolas, nas nossas famílias,ou mesmo nas nossas comunidades cristãs, o problema do horizonte profissional dos mais novos? Creio que, no essencial, continuamos a navegar num mar de ilusões, em que a riqueza individual, o bem-estar e o prestígio são os valores que se anunciam, em fundo, como a melhor promessa para quem inicia um trajecto de trabalho. Ora, talvez os cristãos devessem ter a coragem de pôr em causa a continuação desse projecto de vida como dominante. Talvez se devesse exigir aos cristãos que estivessem na primeira linha do anúncio de que, neste mundo, as profissões são cada vez mais, um campo em que se testa a solidariedade. E que, para levar esse desafio a sério, a formação dos novos profissionais os deve convocar ao serviço, à humildade de aprender sempre mais e à desinstalação material. Quando os cristãos forem capazes de desempenhar este papel com firmeza, talvez a sociedade se sinta confrontada com um sério projecto de conversão.
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