Wednesday, October 29, 2003

Há quem grite "não pagamos" com sincera indignação pela desresponsabilização do Estado na aplicação dos impostos a serviços públicos fundamentais para o nosso desenvolvimento. Mas há também quem veja nesse grito uma pura irresponsabilidade. Os bispos portugueses, no seu recente documento sobre a centralidade do bem comum na organização social, não deixaram de denunciar a fuga aos impostos como um "pecado social". Verdadeiramente, só um Estado com meios materiais avultados pode hoje prestar serviços de qualidade e que permitam a quem tem menos aceder equitativamente aos espaços de qualificação e de bem-estar. Receio bem que a indignação de muitos perante o "não pagamos" gritado pelos estudantes venha camuflar um idêntico "não pagamos" que esses mesmos que se indignam praticam todos os dias, às escondidas, fugindo às suas obrigações fiscais. Sem se pôr ao lado dos estudantes ou ao lado dos cobradores de impostos, Jesus diria muito simplesmente: "aquele que estiver limpo, que atire a primeira pedra".