Nas nossas sociedades seculares, poderia até ser perversa a publicitação da adoração de Jesus por um presidente. A publicidade dos gestos religiosos dos políticos é quase sempre politicamente intencionada. E isso basta para a repudiar. Apesar disso, celebrar o Dia de Reis faz todo o sentido nas nossas sociedades saudavelmente respeitadoras da autonomia entre o religioso e o político. Sentido duplo, aliás. Por um lado, para recordar que o poder, mesmo quando legitimado pelo povo, nunca é absoluto. Por outro, para vincar que esse limite é, sempre, o da obrigação de amar os mais frágeis e de o traduzir em políticas concretas. Não pode ser outro o conteúdo actual dos vasos de ouro, incenso e mirra que os reis do nosso tempo queiram oferecer ao menino. Sem publicidade, mas com coragem e com discernimento.