Wednesday, April 30, 2008

tinha fome e destes-me de comer

A fome está aí como desafio indisfarçável. Habituámo-nos à alta do petróleo, à inflação, aos salários congelados. Mas nunca nos imaginámos a ver o preço do trigo com a mesma oscilação que as cotações do Nasdaq. O capitalismo é louco, é assassino e o mercado é um ídolo cuja adoração é ímpia. Na Universidade Católica, o que ensinam os economistas sobre este problema?

Monday, April 28, 2008

nunca tenho dúvidas e raramente me engano

A relação de Jesus com os apóstolos esteve longe de ser a de um harmonioso grupo de amigos. Pedro e os outros levaram nas orelhas muitas das vezes em que abriram a alma com ele. Balde de água fria quando se encantaram com a transfiguração; reprimenda quando desconfiaram que o barco ia afundar; denúncia das fraquezas quando se adivinhou a perseguição e a morte; e um irritado "não me vedes a mim?" quando lhe pediram para que lhes mostrasse esse Pai misterioso. Por estas e por outras, causa-me sério desconforto o Deus que dá certezas e dogmas a alguns príncipes em vez de causar dúvidas e sobressaltos.

Friday, April 25, 2008

sempre

Para quem era adolescente em 1974, esta é a data da memória do primeiro amor. Que incendiou tudo cá dentro, que deu febre e vertigens, que fez chorar, que motivou viagens inesquecíveis ao que não conhecíamos de nós mesmos. Não é a nostalgia que hoje nos invade. É a presença quente desse primeiro amor que nunca nos abandona. Que viva! Sempre!

Wednesday, April 23, 2008

eucalipto

Não sei é por ser véspera de 25 de Abril Mas arrepia-me a referência à Verdade, no singular e com maiúscula. Venha de onde vier. Essa eucaliptização do raciocínio e das relações mete-me muito medo. O inverso de um mundo sem Deus não é a sua assumpção totalitária. É o seu sopro insinuante por muitas frestas da realidade. Acho que é isso que fez Jesus falar das muitas moradas do Pai.

Monday, April 21, 2008

desencanto

Hão-de vir outra vez falar da juventude e do seu desencanto da política. Hão-de vir, de cátedra, dizer que não foi isto que sonhámos há 34 anos. Terminado o discurso, receberão a chamada dos "congéneres europeus" a felicitá-los pela ratificação "pacífica" do tratado. E passarão pelo escritório para fazer as contas da rapaziada que lá trabalha a recibo verde.

Friday, April 18, 2008

ar fresco

"A minha condição crente convida-me, sem me obrigar, a não optar pelo pedido de eutanásia, mas não tenho o direito de impor esta posição numa sociedade plural, apenas de pedir que me respeitem, do mesmo modo que eu respeito quem, seja com religiosidade ou sem ela, defenda a opção contrária." Há quem assim pense. Ainda bem.

Wednesday, April 16, 2008

fantasmas

Agora é a ameaça de "um Estado militantemente ateu". Temo que os bispos portugueses se preparem para dar bónus ao jacobinismo primário em tempo de celebração dos 100 anos da República. Na missa do regicídio como no fantasma da perseguição é a mesma visão martirológica e reaccionária que se afirma. Simétrica em tudo dos complexos infantis contra "a padralhada". Gente adulta não tem medo de fantasmas.

Monday, April 14, 2008

morais

Uma moral de receitas contra uma moral de diálogo, avisa Juan Masiá. O primado da "ordem moral objectiva", "vigente sempre e em qualquer parte independentemente das circunstâncias", contra o esforço de discernimento de uma ética a partir da vida dos homens e das mulheres concretos/as e das suas tristezas e angústias, alegrias e esperanças. A rigidez do cumprimento dos mandamentos ou a intemporalidade da centralidade do amor ao próximo, mediada pelos caminhos da vida. Eis a questão.

Friday, April 11, 2008

ameaças

Tranquilizemo-nos: o Presidente da Conferência Episcopal afirma que "neste momento a Igreja em Portugal não está numa situação de atacar, mas de diálogo". O diálogo não é, pois, uma opção convicta mas uma fatalidade circunstancial. por falta de força momentânea. Porque se estivesse em condição de atacar...

Wednesday, April 09, 2008

segurança humana

Vivem tranquilos e seguros, com a certeza nos seus catálogos morais e na sua completude. Não há problema difícil da vida que não esteja previsto nesses compêndios sem fim que eles conhecem de cor. Têm tabelas exaustivas de princípios e regras. Só lhes escapa uma coisa pequenina: o indomável da vida, dos seus sofrimentos e das suas alegrias. Nada que lhes roube o sono.

Monday, April 07, 2008

sonho

"Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos?Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
Pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

Friday, April 04, 2008

bio ética

"A vida é como uma estrada / que vai sendo traçada / sem nunca arrepiar caminho. / E quem pensa estar parado / vai no sentido errado / a caminhar sozinho..." (José Mário Branco, "Do que um homem é capaz")

Wednesday, April 02, 2008

o nome da coisa

O peso da fatalidade é insuportável. E esse é o mais terrível dos alibis desresponsabilizadores. Pintamos de "natureza humana" demasiadas coisas que são só produto da nossa acção e da nossa vontade. E assim as fechamos no baú do imutável. Houve um tempo em que chamávamos a isso alienação.