perguntas

A Conferência Episcopal tem alguma coisa a dizer sobre a economia de casino? As comunidades católicas reforçaram os debates internos sobre doutrina social da igreja e a catequese social diante do avolumar da indecência da crise económica global? As falências do BPN e do BPP são vistas pelos/as católicos/as portugueses/as como mais um escândalo de revistas de consultório de dentista ou como um desafio de primeira importância ao testemunho público da Igreja na sociedade portuguesa?

serial killer

Não há escapatórias nem alibis. Ontem, só ontem, foram acrescentadas 70.000 pessoas ao universo dos desempregados. A OIT prevê que neste ano, só neste ano, sejam acrescentadas 50 milhões de pessoas ao universo dos desempregados. O mundo ficará com 230 milhões de desempregados. E com mais de 200 milhões de pobres. É mais que tempo de rever o conceito de desenvolvimento sustentável.

outro

Mais do que nunca, o grito de que "um outro mundo é possível" tornou-se expressão de angústia partilhada. De Davos vêm ecos catatónicos de perda completa de referências sobre o que aconteceu e porquê. Belém do Pará é hoje o nome da responsabilidade de encontrar caminhos para a decência e para um futuro aberto e límpido. Virão?

guantanamo

A História nunca se reescreve. Acrescenta-se. Encerrar Guantanamo é um acrescento bom. Para não esquecermos que em nome dos direitos humanos e das liberdades se praticou tortura. Para que não descansemos na boa consciência preguiçosa e façamos nosso um "nunca mais" sempre inquieto.

hope

Qual é o lugar da esperança na política? Da esperança sem cor nem credo. Em tempo de medos e abatimentos globais, o mundo agarrou-se ontem a essa palavra. E isso é bom. Há uma política para a esperança, hoje?

aqui estou

Naquela noite, Samuel foi testado até à exaustão (1 Sam 3, 10-19). Vezes sem conta, teve o sono interrompido. E sempre, mas sempre, respondeu com a disponibilidade total: "Aqui estou". Não invocou o direito ao descanso nem protestou contra a impertinência de ser acordado a desoras. Não se indignou com a leviandade de quem o chamava nem fez vingar a necessidade de normalidade da vida. Apenas e só "aqui estou". Essa é a lição sem medida dos militantes.

roleta

Na sua ida ao casino, José Policarpo foi mais do que infeliz ao cair no jogo viciado das generalizações. A cultura de cidadela - desta vez na forma de socorro às jovens católicas indefesas ameaçadas sem o saber pelos monstros sarracenos - exprime-se onde menos se espera. Agora virão os branqueadores de serviço: brandirão contra o politicamente correcto e mostrarão, ufanos, que o patriarca está carregadinho de razão. Mas a legitimação e o reforço dos piores estereótipos islamofóbicos foram o que ficará desta ida de Policarpo ao casino.

sarilhos

Um monte de sarilhos, sim. É o que acontece quando se perde o bom senso e se derrapa para o senso comum sem cuidar da sabedoria. Cautela com os amores, claro. E sobretudo com os desamores mal disfarçados. Como aqueles que fazem ver o mal dos outros sem o reconhecer em casa própria. O preconceito disfarçado de verdade factual é tudo quanto há de mais dispensável em quem sabe que é ouvido.

dias de gaza

"Vemos, ouvimos e lemos,
não podemos ignorar!
Nada pode apagar
o concerto dos gritos.
O nosso tempo é
de pecado organizado."

Sophia de Mello-Breyner

água

1.100 milhões de pessoas sem acesso a água potável e 2.400 sem saneamento básico impõem a urgência de uma nova cultura da água. Não, a água não pode ser um novo e apetecido objecto de negócio, mas sim, e só, património comum da humanidade. O direito à água é parte essencial do direito à vida e o direito à vida não se compra, porque nem a vida se transacciona no mercado nem os direitos humanos cabem no jogo de compra e venda. Na nova cultura da água ouve-se a voz da dignidade. E essa não tem preço.

cuidadinho

Cuidamos dos nossos filhos para logo a seguir cuidarmos dos nossos pais e pouco depois alguém cuidar de nós. Há quem viva esta sequência como um calvário. Eu tendo a sublinhar nela a centralidade que o cuidado ocupa nas nossas vidas. A ética do cuidado - com os outros, com a natureza - é a maior adversária do endeusamento do mercado nas sociedades contemporâneas. Que lugar lhe reserva o curriculum das universidades católicas?

esterilização

"Chegou-se a um ponto - totalitário, intimidatório - do discurso contemporâneo em que qualquer pessoa pode ser insultada como anti-semita por criticar Israel. O pós-11 de Setembro, no qual foi eleito o actual Presidente iraniano, favoreceu toda uma tolerância para com esses insultos. Pois quem é quer ser confundido com aquele Ahmadinejad que ameaça limpar o Estado de Israel?" A observação de Alexandra Lucas Coelho, no Público de hoje, é certeira. A procura, por tanta gente, de uma imparcialidade esterilizada diante da actual agressão a Gaza é disso prova clara.

a decência da humanidade

"Em Gaza, está em jogo o sentido básico de decência da humanidade. O sofrimento e a destruição arbitrária da vida das pessoas, o desespero e a ausência de dignidade humana nesta região duram há demasiado tempo. Os palestinianos em Gaza - na verdade, aqueles em toda a região que vivem as vidas mais marcadas pela falta de esperança - não podem esperar que novas administrações ou instituições internacionais ajam. Se não quisermos que o Crescente Fértil se torne num crescente fútil, temos de acordar e de ter a coragem moral e a visão política para que a Palestina dê um salto quântico.”

Vaclav Havel, Príncipe Hassan bin Tala, Hans Küng, Mike Moore,

Yohei Sasakawa, Desmond Tutu, Karel Schwarzenberg