sobre-natural

"Y algo que es aún más preocupante: el papa Ratzinger no ha aceptado, ni da muestras de aceptar, el logro más importante de la teología del siglo pasado: la condición “sobrenatural” del ser humano, tal como Dios ha querido que exista desde el comienzo de su existencia. En este punto estuvo la piedra dura en la que Pío XII se partió los dientes y que, por eso, jamás pudo aceptar los mejores logros de la teología contemporánea. En eso está la piedra de escándalo sobre la que la teología más conservadora se empeña en edificar una Iglesia tan “sobrenatural” y tan “divina”, que todo lo “humano” es para ella admisible en tanto en cuan to se somete a las decisiones eclesiásticas y está bien controlado por lo que quiere el papa y su curia." (José María Castillo, via Jardim de Luz)

feminismo

Também entre os/as católicos/as portugueses/as, a palavra "feminismo" é uma "palavra malvada" como lhe chamou Elza Pais. Também entre os/as católicos/as, as lutas contra a infantilização social das mulheres são consideradas excentricidades, "coisas radicais" e sem sentido. E, no entanto, o feminismo não é senão uma indignação contra o profundo défice democrático que se traduz na menorização das mulheres. A pergunta é, pois, muito clara: que ordem social defendem os/as cristãos/ãs - a democracia ou a oligarquia?

sobressalto

A Comissão Nacional Justiça e Paz entende que "a identidade e cultura europeias se têm enriquecido ao longo da História com os contactos e o diálogo com povos de todo o mundo", constituindo, mesmo, este diálogo uma marca da identidade e cultura europeias. Por outro lado, "a imigração representa um recurso económico que responde a carências decorrentes da crise demográfica na Europa" e deve, assim, "ser encarada mais como uma oportunidade do que como uma ameaça." Por isso, para a Comissão, a Directiva sobre Retorno, aprovada recentemente pela União Europeia, "representa um desproporcional e discriminatório atentado ao direito à liberdade".

É assunto para as homilias de domingo? Ou seguem-se os lexotans espirituais do costume?

como se...

"Mesmo se teve de impor-se à Igreja oficial, havia na Bíblia um fermento de laicidade. Foi assim possível o Estado moderno laico, no quadro de uma racionalidade da organização da vida colectiva, etsi Deus non daretur (como se Deus não existisse): não compete ao Estado decidir se Deus existe ou não, mas tratar dos negócios da existência em comum no mundo e defender a liberdade religiosa de todos. Claro que, de ambas as partes, haverá sempre a tentação do poder. E quem não sabe que, na sua dinâmica, o poder tende a ser total? Pelo seu lado, a Igreja só deveria reclamar liberdade. Sem privilégios. " (Anselmo Borges, Diário de Notícias, 21.6.2008)

a aposta

O racionalista Pascal confrontou-se seriamente com a questão da existência de Deus. E esbarrou na incerteza radical, naturalmente. Contrapôs-lhe uma aposta: apostemos na sua existência e comportemo-nos em consonância. De igual modo, pode alguém demonstrar hoje racionalmente que um outro mundo, mais justo e mais decente, é possível e antecipar como serão as nossas vidas nesse novo mundo? Também nós esbarramos na incerteza funda. Escreve Boaventura de Sousa Santos: "Perante isto, a questão que nos confronta pode ser formulada assim: que razões nos podem levar a lutar por uma tal possibilidade, correndo riscos certos para obter um ganho tão incerto? Sugiro que a resposta seja a aposta, como única alternativa tanto às teses do fim da história como às teses do determinismo vulgar".

amnésia

Lembra o Presidente da Bolívia, Evo Morales, que "até finais da Segunda Guerra Mundial, a Europa foi um continente de emigrantes. Dezenas de milhões de Europeus partiram para as Américas para colonizar, escapar das fomes negras, das crises financeiras, das guerras ou dos totalitarismos europeus e da perseguição a minorias étnicas." E lembra-o a uma União Europeia que aprova uma directiva que fecha fronteiras e criminaliza quem a procura nas mesmas circunstâncias em que os Europeus buscaram as Américas. À gritante falta de inteligência da política europeia junte-se, pois, a amnésia útil e hipócrita.

boa nova x 2

"Ide primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. (...) Recebestes de graça, dai de graça. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado (...)" (Mateus, 10, 5-10).

"Na Ilha de Vancouver (...), os índios celebravam torneios para medir a grandeza dos príncipes. Os rivais competiam destruindo os seus bens. Atiravam ao fogo as suas canoas, o seu óleo de peixe e os seus ovos de salmão; e, do alto de um promontório, atiravam ao mar as suas mantas e os seus vasos. Vencia aquele que se despojava de tudo." (Eduardo Galeano, "El libro de los abrazos")

do povo

Gosto de uma religião que tem santos populares. Que deixa o profano entrar no campo do sagrado e que junta o afecto à razão. Gosto de uma religião assim, em que o povo dança, come e canta sob a protecção dos santos. Gosto de uma religião em que a sisudez do incenso se rende a uma gargalhada ou a uma sardinha.

raça

Não, Senhor Presidente, não há raças: "Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus." (Carta de São Paulo aos Gálatas).

idolatrias

"O Estado deve ser laico, portanto, não religioso, neutro confessionalmente, e isso é exigido não apenas para que haja paz civil e se impeça a menoridade em cidadania daqueles que não seguissem a religião oficial do Estado, mas também porque a religião entendida na sua verdade não pode aceitar que se confunda Deus com a política. Um Estado confessional seria idólatra, pois poria em causa a transcendência divina." Não se confunda laicidade com laicismo. Mas não se faça do risco da confusão alibi para a defesa implícita do Estado confessional não assumido.

do porto

Num tempo em que a soberba dos poderes despreza e vilipendia quem defende os direitos do trabalho, Manuel Clemente, bispo do Porto, disse aquilo que um cristão deve dizer, com firmeza e serenidade: "As organizações sindicais, perseguindo o seu fim específico ao serviço do bem comum, são um factor construtivo de ordem social e solidariedade, portanto um elemento indispensável da vida social." "Sem pressão sindical poderia acontecer que a administração pública se esquecesse do seu papel". Fica honrada a memória de outro bispo do Porto, lembrado também pelo destemor das suas palavras no debate com os poderes estabelecidos.

dignidade

Haverá um tempo em que se olhará para isto e se soltará uma gargalhada ou se corará de vergonha pelo ridículo e pela desumanidade aí evidentes. Até lá, arcaremos com o ónus da nossa complacência. Alguns, poucos/as, continuarão a dizer que a Igreja ou se assume ela prória como um palco privilegiado de luta pelos direitos humanos ou não tem autoridade para falar do tema. Mas quem os/as escutará?

alienação

Há palavras que estão suprimidas do nosso léxico. "Alienação" é uma delas. Ou melhor, passámos a usar alienação só para nos referirmos à venda de acções em bolsa. O sentido anestésico, distraidor, que a palavra tem, como concentração no fútil para nos desviar do essencial, deixou de ser dito. Depois de uma tarde inteira de transmissão, pelos três canais abertos, da partida da selecção portuguesa de futebol para a Suíça, coroada com pérolas como "o Senhor Presidente da República vai agora ter a honra de cumprimentar os jogadores" ou " 17:59: é a partida do avião de todas as nossas esperanças", é urgente resgatar o vocabulário suprimido.