périplo
Mais do que a história, a erudição ou a paixão cosmopolita, o que me fica a mim, mais que tudo, deste livro é o combate contra a arrogância na leitura das histórias múltiplas das gentes do Mediterrâneo. Não há em nenhuma das páginas a tentação de enveredar pelo estilo “se o Mediterrâneo fosse um mar a sério…” glosado por quem faz por estes dias da sua visão do país e do mundo a única verdadeiramente séria e que deslegitima todas as demais. Enveredar por esse caminho seria aliás não entender nada do que é, e sempre foi, o Mediterrâneo. Ao contrário, este livro prefere apagar os pré-juízos dos autores e curvar-se diante da construção geológica da realidade, vinda da origem dos tempos, na Mesopotâmia, até hoje. Sendo um acto de cultura, este livro é assim um acto político. Porque faz escolhas fundas e claras. Sou dos que pensam que a verdadeira forma de discutir a Europa é discutir o que ela fez de melhor e pior no mundo e o que o mundo espera que ela faça agora. Agradeço ao Miguel Portas por não ter abdicado de discutir assim a Europa como Atlântida de muito mundo no nosso tempo.
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