a insustentável frieza do que acontece
Perdoa-nos, Pai, porque continuamos a emocionar-nos muito mais com a morte do que com a vida. Sempre que a irmã morte nos visita deixa-nos arrasados, com um terrível sentimento de perda e de incredulidade. Estranhamente, para quem se quer crente, não somos capazes de perceber outros momentos – o regresso de alguém que andou longe, o empenhamento denso e exigente de tantos de nós na política, na escola, na profissão, no associativismo, o recomeço de um caminho de dignidade que se tinha destruído, a entrega polémica e teimosa pelo bem comum – como sinais fascinantes de uma vida que se nos dá com surpresa e admiração e que compensa a dor com a alegria e a perda com a noção de construção permanente. Por isso, desculpa Pai.
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