Friday, May 30, 2008

género

"Se Eva tivesse escrito o Génesis, como seria a primeira noite de amor do género humano? Eva teria começado por esclarecer que não nasceu de nenhuma costela, nem conheceu nenhuma serpente, nem ofereceu maçãs a ninguém e que Deus nunca lhe disse que parirás com dor e o teu marido te dominará. Que todas essas histórias são puras mentiras que Adão contou à imprensa." (Eduardo Galeano, "Patas arriba. La escuela del mundo al revés")

Wednesday, May 28, 2008

à atenção da conferência episcopal

Qual é a prioridade na agenda dos bispos portugueses: o relatório do Eurostat que afirma que Portugal é o país da UE com mais e maiores desigualdades sociais ou a regulamentação da Concordata?

Monday, May 26, 2008

tensão

"Confiai como se tudo dependesse de Deus, trabalhai como se tudo dependesse de vós" (Santo Inácio de Loyola). É nesta tensão entre o "já" e o "ainda não" do Reino que é fascinante ser cristão. Nós já somos o que virá, como canta o José Mário Branco. Mas para que isso - "essa coisa que é linda" - venha de verdade, ainda está tudo por fazer. E esta tensão nunca termina.

Friday, May 23, 2008

três linhas

"Se não há mudança social, não pode haver erradicação da pobreza. Se os programas (de combate à pobreza) não tocam no resto da sociedade, tentam resolver a pobreza dentro do universo da pobreza, mas não estão a resolver as causas." Em três linhas, Alfredo Bruto da Costa coloca aos cristãos portugueses aquela que deve ser a sua interpelação fundamental neste tempo. Seria bom que chegassem ecos dela à conferência episcopal. Mas temo que não haja lugar para estas coisas na agenda...

Wednesday, May 21, 2008

corpo de deus

Monday, May 19, 2008

escolhas

A cada momento que passa somos mergulhados no discurso das inevitabilidades. Não há alternativa para o primado do capital sobre o trabalho, não há alternativa para o mercado como instância de (des)regulação social, não há alternativa para "as virtudes do centro". Ou melhor, haver há, mas são construções "erradas", "ultrapassadas" e, em última análise, "escravizantes". Portanto, como dizia o outro, há mas não há. Ora, tudo são escolhas. Sempre e só escolhas. E é por elas que seremos julgados. Nessa altura não valerá o alibi de que "não fui eu que escolhi, era inevitável..."

Friday, May 16, 2008

nakba

Nenhum povo pode ser livre enquanto impedir que outros povos o sejam. E nada - nem o medo, nem o trauma, nem a ambição - legitima a dominação de um povo sobre outro povo. A perseguição cruenta de que os judeus foram alvo (algo em que os cristãos têm cadastro sério) não serve de justificação, e muito menos de desculpa, para os 60 anos de violação dos direitos mínimos do povo palestino pelo Estado de Israel. Não há anjos nem demónios nesta história. Nem há povos eleitos. Há humanidade, só isso. É em nome dela que é imperioso lembrar agora a opressão dos palestinos.

Wednesday, May 14, 2008

uma vida

Talvez o maior repto do nosso tempo para os cristãos seja o de fazerem da cidadania, na pluralidade democrática de um Estado laico, um campo infindo de testemunho da sua esperança. Se alguma capacidade pedagógica tem, para os crentes, a condição de santo, essa é a de condensar uma proposta de vida fiel ao essencial do cristianismo. Essa pedagogia do testemunho de vida também se tem que fazer, cada vez mais, na aprendizagem humilde mas tenaz, da cidadania. É isso que torna este livro tão importante.

Monday, May 12, 2008

apaziguamento

A arrogância dos cínicos abate-se, fria, sobre o que dizem ser a cobardia do apaziguamento. Luis Moita afronta-os, com a serenidade da razão: "Ora bem, precisamos de rituais de apaziguamento. A nossa situação internacional necessita de rituais de apaziguamento, de atitudes que possam prevenir os conflitos pela criação de dinâmicas não violentas. A prevenção não pode ser apenas operacional, tem de ser estrutural, quer dizer, tem de ser profunda e persistente." O livro chama-se "Rituais de apaziguamento. Escritos sobre Relações Internacionais". Sai hoje ao fresco da rua.

Friday, May 09, 2008

por um momento

Em Paris, nos campus universitários norte-americanos, em Praga, o Maio de há 40 anos foi um tempo sublime. Contra todas as convenções e todos os conservadorismos morais, foi uma revolução que saíu à rua. A denunciar que compostura e felicidade há muito haviam deixado de rimar; e a proclamar que a liberdade é sempre superior a quaisquer cânones. Por um momento, a radicalidade foi o único horizonte de transformação aceitável e, por um momento, o cinismo e o calculismo não reinaram. Sim, é possível...

Wednesday, May 07, 2008

conversão

Em tempo de criminosa espiral dos preços dos alimentos básicos às mãos da especulação financeira, há vozes que não podem deixar de ser ouvidas: "A fome é uma constante de todas as sociedades históricas. Hoje, no entanto, tem dimensões vergonhosas e cruéis. Revela uma humanidade que perdeu a compaixão e a piedade. Erradicar a fome é um imperativo humanístico, ético, social e ambiental. A condição prévia mais imediata e possível, que deve ser posta imediatamente em prática, é um novo padrão de consumo. (...) Para fazer frente ao consumismo, é urgente que sejamos conscientemente anti-cultura em exercício. Há que incorporar na vida quotidiana quatro 'erres' principais: reduzir os objectos de consumo, reutilizar os usados, reciclar os produtos dando-lhes outra finalidade e recusar o que o marketing, descarada ou subtilmente, nos força a consumir."

Monday, May 05, 2008

memórias

Durante décadas, a militância católica foi uma escola de militância política. Plural, contraditória mesmo. Nem os mecanismos de enquadramento ideológico da ditadura nem muitos dos grupos de resistência tiveram a a capacidade de germinar na juventude o imperativo da política que o activismo católico evidenciou. Em tempos de pueril descoberta presidencial do alegado alheamento político actual dos mais novos, é importante resgatar as memórias de aprendizagem do bem comum e da pluralidade das suas mediações como suportes imprescindíveis da estima pela Política.

Friday, May 02, 2008

primeiro de maio

Os intermitentes, os avençados, os bolseiros, os estagiários não remunerados são os novos rostos do proletariado. Sim, o proletariado existe, para irritação dos senhores que debitam acefalamente que a diferença entre a esquerda e a direita é coisa do passado. Há uma nova "questão social" que marca fundo o nosso tempo. Ela é feita de falta arrepiante de horizontes de vida para a gente mais nova e mais promissora. O discurso da Igreja para hoje ou é feito de esperança concreta para estas pessoas ou soa a falso.