fraquezas

O perdão é sempre inesperado. É sempre contra a lógica segura da racionalidade dominante. Popular mesmo é a intransigência da condenação. Dá tranquilidade aos guardadores de regras de vida minuciosas. Jesus nunca alinhou com eles. Irritou-os e desautorizou-os com o seu gosto pelo risco e com a sua estranha mania de confiar na liberdade.

luxos

A precariedade tornou-se lei no mundo do trabalho. Somos convidados a aceitar como um privilégio um trabalho temporário, sem direitos sociais básicos e sem nenhuma perspectiva de estabildade. Diante deste atentado à dignidade, apetece lembrar a Encíclica Laborem Exercens, de João Paulo II: “Fazer com que se tornem realidade os direitos dos trabalhadores não pode (...) constituir apenas um elemento derivado dos sistemas económicos que, em maior ou menor escala, sejam guiados principalmente pelo critério do maior lucro. Pelo contrário, é precisamente a consideração dos direitos objectivos do trabalhador (...) que deve constituir o critério adequado e fundamental para a formação de toda a economia.”

progresso

“O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo”. Foi Paulo VI quem amarrou a Igreja a esta ousadia de pensar o desenvolvimento contra a ditadura da contabilidade e em nome do humanismo solidário. A Encíclica Populorum Progressio faz hoje 40 anos. Tão esquecidos que andamos dela...

o pai pródigo

Pródigo foi aquele Pai em generosidade. Ofensas acumuladas, desilusões sucessivas, apostas perdidas umas atrás das outras num filho que deperdiçou a fortuna e as oportunidades, nada disso contou no momento do reencontro. Coração de manteiga, dirão alguns. Injustiça, disseram outros. Nada disso. Apenas amor.

mesopotâmia

Por estes dias lembramos uma guerra sem sentido que dura há quatro anos. Lembraremos cada um dos mais de 650 mil mortos. Lembraremos as muitas mais vítimas indirectas, com as vidas e o futuro destroçados para sempre. Lembraremos que podia não ter sido assim e que esta guerra, como todas as guerras só foi fatalidade para quem a quis assim inevitável. Rezaremos pela Paz. E comprometer-nos-emos uma vez mais com a sua vinda.

pai

Este não é o dia dos pais irresponsáveis, que põem os filhos atrás da carreira. Este não é o dia dos pais ausentes, que não estiveram lá quando era preciso um afecto, uma palavra ou um aviso. Este não é o dia dos pais autoritários, que vêem nos filhos apenas a extensão de si próprios. Este não é o dia dos pais fáceis, que não estão para se maçar e se deixam comprar para qualquer capricho. Hoje é o dia dos pais imprescindíveis. Hoje é o dia dessa marca forte na nossa liberdade de filhos.

desânimo

Ver desfazer-se, a pouco e pouco, o sonho que animou a vida custa muito. Deu-se o melhor de si, renunciou-se a muitas seduções e a paga nunca veio. Há gente que consegue dar graças por tudo, mesmo assim. É grande e admirável a sua fé. Há gente que não tem essa força. E que vive a vertigem da capitulação. A uns e a outros é feito o desafio da esperança. Perante os primeiros, mas sobretudo diante dos últimos, é enorme a responsabilidade da comunidade dos crentes.

ineficiências

Diante dos constrangimentos da redução da despesa pública, do equilíbri orçamental, dos ganhos de produtividade, da competitividade ou da racionalização da administração, o que vale a parábola do vinhateiro? Na economia, na sociedade, nas nossas vidas, há algum espaço para condescender com uma árvore que prima por não dar frutos? Não é muito mais razoável eliminar o que é ineficiente para dar lugar ao que é eficiente? Não seria o vinhateiro despedido com justa causa por gastar tempo e dinheiro com o que já não tem remédio?

na contramão

Em tempo de tolerância zero, não há segundas oportunidades. Vale o mandamento da eficácia. A figueira que não dava figos estava a mais. Era para cortar. Mas houve quem, contra a corrente, prometesse cuidar dela por mais tempo. E os frutos vieram, suculentos. O cuidado actua na contramão da razão fria. O afecto e a gratuidade são os seus mandamentos. A pedagogia do cuidado é certamente o maior contributo que os cristãos podem dar à sociedade do nosso tempo.

transfiguração

Neste tempo de celebrar a transfiguração de Jesus aos olhos dos seus amigos, lembro palavras sábias de Maria de Lurdes Pintasilgo: "Mudar as estruturas mudando-nos. Mudar o olhar que pomos nas coisas e com ele fazer nascer novas possibilidades de relação, de acção, de organização (...) [a] grande empresa não é o plano pensado e repensado, a estrutura gigantesca que, com os seus tentáculos, tudo vai abafar, nem a mentalidade renovada, adaptada, ajustada, conformada. A grande empresa é mudar a vida."

um dia

Amanhã as mulheres passarão da periferia para o centro do debate público. Por um dia. Vai-se falar de marginalização e ainda bem. Vai-se denunciar a injustiça e isso é bom. Vai-se criticar o machismo e o sexismo mal disfarçado e isso é importante. No dia seguinte, na cidade, na escola, na empresa ou na escola, poucos ecos sobrarão. E na igreja?

que bom...

Jesus deixou-os perceber como seria o Reino e eles já não queriam voltar ao mundo. "Que bom é estar aqui...", confessaram. A segurança é uma tentação terrível. Porque nos afasta da exigência da construção, do confronto, do atrito. A transfiguração do mundo, nada menos do que isso, é o que os crentes são chamados a operar. Sem descansos nem alibis.

mp 23

O menino que nasceu frágil, que chorou, que subiu à árvore e não conseguia descer, que inventou estrelas no tecto do carro no desespero das filas intermináveis, que fez todas as perguntas difíceis, é agora um homem. A lembrança da mão dada acrescenta humanidade à nossa vida. O projecto do cuidado e do carinho ainda mais. Graças a Deus.